ARITMETICA TRIBALISTA

02-12-2012 22:05

ARITMETICA TRIBALISTA

 

            A tão propalada ideia da necessidade de Reforma nas Forças de Defesa e Segurança, hoje, na Guiné-Bissau, disfarça sentimentos imundos, coloniais e racistas do período salazarista impressos no Estatuto do Indigenato. O “Apartheid” ao bom estilo colonial português, chamado “civilizado”. A maior parte dos adeptos da dita reforma tendem a esgrimir argumentos como: “Equilíbrio étnica nas Forças de Defesa e Segurança guineense”. Para eles, são irrelevantes as condições nas casernas ou até a necessidade de reformas em outras áreas do Estado, tais como a Função Pública, Educação, Justiça, Saúde Pública, Saneamento Básico, etc.. A obsessão desses teóricos divisionistas visa sobretudo vergar a espinha dorsal arrojada às nossas Forças Armadas Revolucionarias do Povo (FARP)! Por isso argumentam que a lei de recrutamento (obrigatório ou voluntario) de mancebos deveria obedecer ao critério de “quota étnica”. O que significaria - a luz desta aritmética tribalista – que o recrutamento militar não seria extensiva a todos os jovens com idade para alistamento militar.

 

            O Jornalista Victor Gomes pereira (Kaúdo), no seu talentoso artigo “Editorial 9” procurou trazer, à luz do dia, algumas realidades que estão na génese da formação das nossas Forças da Defesa e Segurança. Para os mentores da ideia de Reforma no sector da Defesa e Segurança, chamou atenção, inclusive, para as diferentes vocações económico-profissionais de algumas etnias da nossa terra; da capacidade de resistência de alguns grupos às condições nas casernas; aos esquemas de alguns indivíduos e grupos para evitar o cumprimento do serviço militar; formas de recrutamento do pessoal em outras esferas do Estado, etc.

            Victor Pereira explicou que “…durante os quinhentos anos da colonização portuguesa, o território foi sempre governado, sem exceção, por militares, daí que a relação da população com a estrutura do poder tenha sido sempre mantida com militares.” Será essa a razão de toda essa obsessão dos adeptos da Aritmética Tribalista para o sector da Defesa e Segurança? Parece que não! O jornalista lembrou ainda que “… quando se deu a abertura política e democrática (princípios de anos noventa), era imperativa a separação do poder civil do militar ou paramilitar, mas igualmente imperativa, também era a reforma do sector da defesa e segurança a fim de criar umas verdadeiras forças republicanas.”

 

            É verdade, porém, que o sector castrense aguça os apetites voraz dos ditadores que procuraram, a todo custo, assenhorear-se, para, por seu intermédio, amedrontar os adversários políticos, sejam eles individuais ou constituídos em formações políticas adversárias. O PAIGC nunca se conformou com a ideia de uma Força Armada apartidária. Não esqueçamos que a primeira REFORMA no sector da Defesa e Segurança foi o “caso 17 de Outubro”, que o regime instaurou pelo recurso a genocídio étnico. Ainda está viva nas nossas memórias! E quando se deu a abertura política e multipartidária, as nossas Forças da Defesa e Segurança estavam inteiramente controladas por uma pessoas: o chefe: NINO VIEIRA! As FARP que eram braço armado do PAIGC, iniciariam uma era multipartidária, teoricamente, apartidária e Republicana. Pois estavam limpas de figuras incómodas ao chefe! Esta pomposa imagem não durou uma década! A chaga provocada pelo “17 de Outubro” tinha o tamanho de uma cratera, difícil de cerar. Em 1998 irrompeu-se uma grave crise político-militar, que se traduzia numa clivagem política entre NINO VIEIRA e a sua base de apoio: as Forças Armadas. Antipatizou-se com o seu CEMGFA, Ansumane Mané. Terminado o ciclo, à entrada do novo milénio até ao golpe de Estado que derrubou de Kumba Yala, o país era controlado, basicamente, pelos militares que indicavam lideranças transitórias. Havia ainda um período negro, conturbado, de lutas palacianas pelo regresso de NINO VIEIRA do exilo e que culminaria com a sua morte. Aliás, a quezília começara com o assassinato do CEMGFA, Veríssimo Correia Seabra, como forma de desbravar caminho para o regresso de NINO VIEIRA do exilo. Nesse período, o PAIGC estava decapitado e economicamente debilitado. Carlos Gomes Júnior testa-de-ferro de NINO VIEIRA era a solução! Atira-se para a arena política pela segunda vez como Primeiro-ministro e decide nomear um capitão da Marinha de Guerra Nacional para CEMGFA, José Zamora Induta e, inconstitucionalmente, um Vice-CEMGFA, António Injai. O casamento durou pouco! A destituição de Zamora por Injai defraudou a espectativa do PAIGC em controlar as Forças de Defesa e Segurança. Foi a partir desse momento que começou a campanha de desinformação e diabolização das nossas Forças Armadas, alimentada pela animosidade entre o ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior e António Injai. Foi também o momento de inspiração do Governo do PAIGC liderado por Carlos Gomes Júnior em cálculos tribalista para a Reforma no sector da Defesa e Segurança. Esgotados expedientes internos, recorreu apoio internacional, sem consultar o parlamento, para o plano de Reforma das Forças de Defesa e Segurança (Missang), constituída, exclusivamente, por militares angolanos. Sabe-se que a estratégia do PAIGC de Carlos Gomes Júnior visava o acantonamento das nossas Forças Armadas, às vilas e aldeias, e transformá-las, por exemplo, em milícias rurais. E nos centros urbanos, a guarda pretoriana da elite governante seria constituída pelas forças estrangeiras.      

 

Por Balugum