COMUNICADO DE IMPRENSA

30-12-2011 21:10

OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA

                                                                                                                                                        BISSAU

 

PRS, PRID, UPG, PDG, PDSSG, FCG-SD, PPD, UDS, RGB, CD, PADEC, MP, CNA, FLING, PRN.                                    

COMUNICADO DE IMPRENSA

Após exaustiva análise dos acontecimentos político-militares, do passado dia 26 do corrente, a Oposição Democrática vem tornar pública a sua posição política, perante o povo guineense e a comunidade internacional, mesmo não estando na posse de informações fiáveis, oficiais e suficientes, para que possa, de forma inequívoca e objectiva, pronunciar-se sobre tais factos. O próprio governo revela-se incapaz de esclarecer o assunto, e a prova, é a manifesta contradição entre as declarações do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, que afirma estar-se perante um golpe de estado abortado, e as do Ministro da Educação, no papel de porta-voz, que diz estarmos perante um grupo de militares amotinados que assaltaram um paiol de armamento.

A Oposição Democrática reafirma, no entanto, a sua inequívoca posição, de que em qualquer circunstância, é contra qualquer tipo de levantamento militar, com a finalidade de alteração da ordem constitucional por meios violentos e anti-constitucionais, sendo por isso, a todos os títulos, a favor de um Estado Democrático, e de Direito. Nestes termos, a Oposição Democrática condena qualquer comprovada tentativa de Golpe de Estado, ou de levantamentos militares, que ponham em causa a nossa Constituição e o Estado de Direito em que vivemos, tendo em conta que a veracidade de tais acusações tem de ser efectiva, para não se voltar a cometer assassinatos premeditados, como os ocorridos com os políticos Hélder Proença e Baciro Dabó em 2009, cuja intenção, era afinal, a liquidação de adversários políticos. Saliente-se que os mesmos assassinatos, alegadamente perpetrados em nome dos mais altos desígnios da Nação, e que mais tarde vieram a revelar-se falsas, tiveram por consequência a inexistência de qualquer tentativa golpe de estado, segundo as autoridades judiciais.

Numa análise mais atenta sobre os recentes factos, o colectivo da Oposição Democrática não pode deixar de ligar alguns acontecimentos. Dois dias após o regresso do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, de uma visita relâmpago ao Presidente angolano José Eduardo dos Santos, dá-se, de novo, a encenação de um golpe de estado. Curiosamente, é um destacamento da força militar angolana, sedeada na Guiné-Bissau, que sai com uma unidade de blindados TT para resgatar, por volta das 4h30 da madrugada do dia 26, o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e a família.

Estamos perante a ocupação de uma força estrangeira que se arvora em guarda pretoriana do senhor Carlos Gomes Júnior, cuja base se encontra instalada em Bissau, no antigo Palace Hotel. Por isso, queremos alertar o povo guineense e a comunidade internacional que esta presença militar estrangeira, ilegal, para além de proteger o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, incita-o na sua purga aos adversários políticos, e já tomou conta dos nossos recursos, tais com a bauxite e o petróleo.

A Oposição Democrática pergunta ao senhor Carlos Gomes Júnior, se ainda é, primeiro-ministro da Guiné-Bissau, ou, se já é Pro-Cônsul do Presidente angolano José Eduardo dos Santos. Na nossa opinião, é inadmissível que o primeiro-ministro da Guiné-Bissau seja resgatado por forças de ocupação estrangeira. Só demonstra que não tem confiança nas suas forças armadas.

Senhor primeiro-ministro, se já vendeu a alma às autoridades angolanas, o povo guineense não permitirá que venda impunemente os nossos recursos.

A Oposição Democrática acha estranha, essa paródia que o senhor primeiro-ministro convencionou chamar de golpe de estado, porque afinal, só visa os seus adversários políticos. Neste caso, demonstrou não ter dotes políticos, em matéria de encenação e montagem para a liquidação de adversários políticos.

Somos pobres, mas o povo guineense por tradição nunca se deixou espezinhar por nenhuma força de ocupação estrangeira. Quem tiver dúvidas, que pergunte as tropas coloniais de ocupação, e mais recentemente, as tropas senegalesas e da Guiné-conakri no conflito político-militar de 98. E os nossos amigos angolanos, se não têm memória curta, ainda certamente estão recordados da bravura do batalhão guineense Abel Djassi, que a poucos dias da proclamação da independência de Angola, rechaçou as tropas sul-africanas que se achavam a 60 km de Luanda.

A Oposição Democrática denuncia o manifesto mutismo do nosso governo sobre um outro acontecimento recente que envolve a violação do espaço aéreo verificada na povoação de Amedalai, sector de Mansoa, secção de Tchalana, e o sabido e observado desembarque de droga em aeronaves.

  • Terá alguma relação com os recentes incidentes militares?
  • Será que a vinda desta aeronave terá alguma relação directa com os conflitos dentro no seio das FA, que vieram a culminar com a dita tentativa de golpe de estado?

A Oposição Democrática pede esclarecimentos ao governo sobre esta matéria, e apela a comunidade internacional para o reforço do apoio ao combate ao narcotráfico, cujas teias parecem ter atingido todo o aparelho do estado.

 

Queremos ainda reafirmar que a posição da Oposição Democrática é clara: “Carlos Gomes Júnior, o actual Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau tem de ir à Justiça”, pelo que o colectivo da Oposição Democrática não recuará face a eventuais manobras e invenções que se estão a orquestrar para desviar a opinião pública da questão principal, ou seja, da suspeição que recai sobre o Sr. Carlos Gomes Júnior, de ter sido o suspeito mandante de crimes de sangue perpetrados em 2009.

Doutro modo e atendendo à gravidade dos acontecimentos em análise, a Oposição Democrática apela à criação de uma Comissão independente de Inquérito para a clarificação isenta e séria dos últimos acontecimentos. Deste modo garantir-se-á um apuramento com a maior veracidade e credibilidade possíveis, sem aproveitamento para ajustes de contas e vinganças políticas, e permite, por outro lado, que os implicados sejam investigados, e a haver culpados, estes sejam responsabilizados a fim de evitar mais atropelos à ordem constitucional e à democracia na Guiné-Bissau.

A Oposição Democrática consciente das suas responsabilidades, reafirma-se em defesa e reforço do estado de direito e da democracia, porque os problemas da democracia só se resolvem com métodos democráticos.

A Oposição Democrática exorta ainda o povo e a população em geral para a vigilância do processo democrático de acordo com toda a intervenção política feita ao longo do ano, no respeito escrupuloso da constituição e das leis, para a promoção da justiça, paz e estabilidade, em que a razão fundamental assenta na clarificação dos assassinatos de 2009, que passam necessariamente pelo julgamento de Carlos Gomes Júnior.

Bissau, 28 de Dezembro de 2011

A Coordenação

Ibraima Sori Djaló