KAMUDONGOS NA GUINE-BISSAU

29-12-2011 19:48

KAMUDONGOS NA GUINE-BISSAU

 

Pairam de novo nuvens sinistras no céu da Guiné-Bissau, desta vez arrastadas da África Austral (Angola) para a nossa costa Ocidental, em conluio com os dirigentes zig-zags do nosso país. Formou-se no céu uma urdidura tenebrosa chamada Missão Angolana de Apoio à Reforma do Sector da Defesa e Segurança (MISSANG). Enquanto o povo lamenta sobre o imprevisível desfecho desse trama, o mundo abate as palmas e vai-se preparando para a batalha propagandística no fatídico dia em que uma bala perdida angolana raspar um guineense, como aliás aconteceu, por exemplo, na Costa do Marfim.

 

Na inauguração da nova agência bancária no Mercado de Bandim, o Primeiro-ministro, Carlos Gomes Jr., foi contundente, no seu discurso, ao mostrar, mais uma vez, que o foco de instabilidade no país tem sido os militares guineenses. A MISSANG, para ele, é o factor da estabilidade. A sua presença no país fez, na sua opinião, com que os próprios militares compreendessem que o diálogo é a solução dos problemas que possam surgir entre os nós.

 

A presença militar angolana é bem-vinda para uma certa minoria saudosista encurralada em Bissau. Mas, para nós e para o povo, a sua presença não passa de um acto perverso que encerra o crime de traição à Pátria. Os cidadãos, com aspirações políticas, sabem que a ninguém é permitido, por usurpação ou abuso de funções de soberania, tentar submeter o país ou parte dele à soberania estrangeira, ofender ou pôr em causa a independência nacional. No caso concreto do nosso país, o Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, na qualidade de Comandante em Chefe das Forças Armadas, juntamente com o seu Primeiro-ministro, Cadogo Jr., escolheram, perfidamente, o divorcio com o povo que os elegeram, solicitando asilo político a Estado terceiro (Angola), dentro do seu próprio Estado. É inconcebível que isto esteja a suceder-se hoje com um Estado cuja soberania foi alcançada graças aos sacrifícios desmedidos do seu povo! O chefe do governo guineense janta diariamente com o emissário (Embaixador) do Presidente Eduardo dos Santos e passa as noites a esconder-se pelos labirintos do Palace Hotel, quartel-general dos mercenários da MISSANG, adquirido por ele, como forma de branquear o dinheiro sujo. Pergunto: de que sinal de estabilidade estarão eles a falar?

 

O governo de Cadogo Jr., baseia a sua análise em senso comum. Orgulha-se, inclusive, de ter ministros bruxos. Desdenha reflexões e estudos de natureza científica sobre a sociedade que diz representar. Baralha e ofusca o mundo com as suas ideias coloniais sobre o povo balanta, e não só. O seu subconsciente enaltece apenas os bajuladores e os chamados civilizados dos tempos de tuga. Quando, em Março último, os kamudongos (povos do norte de Angola ou kimbundos) pisaram o chão da Guiné-Bissau e se instalaram em seu quartel-general, em Palace Hotel, apenas sabiam dizer a palavra balanta. Cegos pelas fantasias tribalistas de Malam B. Sanhá e Cadogo Jr., inquiriam, a cada instante, se este ou aquele militares guineense era da etnia balanta. Que eu saiba, não existem uniformes militares balanta, nem sulano (povos do sul de Angola ou ovimbundos) ou kamudongo.  Afinal, somos todos habitantes do planeta terra e africanos. Os nossos problemas, na Guiné-Bissau, serão aqueles que já referi e nunca de dominação de um grupo sobre o outro, como acontece em Angola, onde a condição dos sulanos é de eterna subserviência em relação aos Kamudongos.

 

De que sinal de estabilidade fala Carlos Gomes Júnior, se a própria MISSANG já começou a admitir - recatadamente, quanto baste - que as ideias fantasmagóricas da sua missão estão a contradizer-se com as evidências no terreno? O plano já sofreu uma baixa de vulto resultante de desacato na via pública entre militares angolanos, envolvendo um Brigadeiro e o seu subordinado. Quem não sabe da agitação no seio castrense motivada pelo secretismo em torno da chegada do barco angolano com equipamento militar? Conto-vos um ligeiro episódio: num belo dia, um oficial militar kamudongo deslocou-se na companhia dos seus congéneres guineenses em visita aos aquartelamentos de Quebo e os da região de Buba. Em Quebo, indicaram-lhe o quartel. O oficial desgostoso só abanava a cabeça de tanto entulho que via por todo lado. Chegou a hora da refeição serviram-lhe refogado de arroz com nada, o oficial declinou o convite. Abortou a missão e regressou a capital. Pode dizer-se que eles (os kamudongos) estão metidos numa grande alhada. Sabe-se, pois, que a MISSANG garantiu-os que vinham a Guiné-Bissau em missão de paz das Nações Unidas. E sobre o estado dos quartéis de que falava: posso assegurar-vos de que não constituem os únicos elementos que sinalizam a má governação do PAIGC durante os trinta e sete anos. As condições do nosso ensino e das escolas em si, dos hospitais, da administração pública, etc., enjoam e contrastam, a milhas, com a ostentação grosseira dos dirigentes políticos do nosso país. De que sinal de estabilidade, estarão eles, então, a falar?

 

Por: Balugum