MERCENÁRIOS ANGOLANOS

29-12-2011 19:50

MERCENÁRIOS ANGOLANOS

            Parece mentira, mas é verdade! Estamos, de novo, confrontados com uma traição imperdoável, perpetrado pelos ditos representantes do povo guineense. Nas costas do povo, cerca de 200 mercenários angolanos foram apontados pela comunicação social tendo sido admitidos pelo Presidente da República, Malam Bacai Sanha e pelo Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior. Os referidos mercenários já se instalaram no seu Quartel-general, em Palace Hotel, pronunciando uma única palavra da nossa cultura: BALANTA. Etnia, portanto, que a Missang jura - até ao fim do primeiro semestre - escorraçar das forças armadas guineenses. 

Este contingente militar não é mais que uma força avançada para desbastar o trilho. A seguir, chegarão mais homens no quadro da União Africana (UA), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). Depreender-se das palavras do Ministro das Forças Armadas da Guineense, Aristides Ocante da Silva, ao referir que em função das necessidades, objectivos e estratégias de cada momento, poder-se-á privilegiar um ou outro domínio da cooperação dos vários que constam do protocolo de cooperação militar com Angola. O seu homólogo angolano defendeu o mesmo princípio ao encarar a possibilidade da participação de mais forças internacionais para a reforma em curso.

            Os guineenses têm motivos redobrados de preocupação e receio em relação ao futuro, porque, ao contrário daquilo que Ocante da Silva vem pregando, a presença das tropas estrangeiras no país nunca foi submetido a um debate democrático nacional e muito menos discutido no parlamentar. A presença militar angolana, resultou, sim, de um protocolo de acordo rubricado entre dirigentes dos dois países, desfrutando do vazio da reforma iniciada pela União Europeia, e gorada com o golpe militar do dia 1 de Abril 2010. Portanto, nunca houve um Acordo de Cooperação Bilateral entre a Guiné-Bissau e Angola no domínio militar e jamais o projecto de reforma da União Europeia previu nas suas cláusulas, presença militar estrangeira no nosso território. Por outro lado, não persuade, em nenhuma circunstância, o argumento de que a presença militar angolana decorre do facto desse país (Angola) assumir actualmente a Presidência rotativa da CPLP, senão fosse assim, estaríamos todos, desde logo, em presença de uma coligação internacional de forças, e nunca amarados, como estamos agora, a um estapafúrdio entendimento de uma quadrilha no domínio da defesa e segurança. Mesmo que de um cenário de conflito armado se tratasse, a dita missão teria que obedecer às regras da transparência democrática.

A jogada é de outro calibre! A Missang inspirou-se no artigo de Paulo M. Marins, de Fortaleza (CE), Brasil, em 25 de Abril de 2010, que falava sobre a necessidade de extinguir as Forças Armadas Guineenses e começar o trabalho de raiz, ou seja, definir os que ficam e os que se vão, os quais, sob compromisso de honra, procederão à entrega voluntária das armas, munições e demais equipamento bélico em seu poder, beneficiando, como contrapartida, da atribuição de fundo de pensão ou reinserção e casas para habitação. (…) Recrutar ex novo, na base de critérios pré-estabelecidos, passando, nomeadamente, pelo equilíbrio étnico. O sociólogo e diplomata das Nações Unidas, Carlos Lopes, foi mais longe na sua entrevista ao jornal “O Público” de 19 de Maio de 2009, ao caracterizar a Guiné-Bissau como o tipo de países em estado de conflito de baixa intensidade e que não conseguem sair da crise porque têm problemas institucionais graves. Para o sociólogo, o caso da Guiné-Bissau não tem saída a curto prazo, a não ser uma presença maciça da comunidade internacional em termos económicos, institucionais e até militares. Reconhece, contudo, os tempos que correm não são de feitorias e da tutelagem, mas em algumas situações como a da Guiné-Bissau já há uma espécie de transposição do que seria essa tutelagem: em Timor e na Serra Leoa... Onde as coisas não correram mal. Foi assim que nasceu, de facto, o discurso de legitimação da ideia de protectorado na Pátria de Cabral.

A invasão ao país pelas forças da sub-região, resultante da revolta militar de 7 de Junho de 1998 pareceu-nos ter enviado, para África e para o mundo, mensagem clara de perseverança e humildade do nosso exército. Mas, pelas circunstâncias do momento, a notícia não parece ter atingido à África Austral. O nosso país tem apenas 36.125 mil km2, mas nos pertence por direito próprio e adquirido, heroicamente, e nos aconchega! O dia 21 de Março de 2011, marca um período a partir do qual não se sabe mais o que o futuro nos reserva enquanto povo soberano e livre. Quando um amigo, encorajado pelo sentimento de justiça - como alega o Ministro da Defesa angolano – aparece junto ao outro amigo armado até aos dentes no papel de bombeiro, depois da casa ardida, o que é que isso sugere? Se não for daqueles amigos invejosos, estará, de certeza, a preparar-se para o próximo incêndio, cuja previsão apenas ele saberá definir. A data de 21 de Março, como estávamos a referir, será recordada para sempre como o dia em que o regime ditatorial de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola, decidiu turvar com as suas toscas botas a paz e segurança na pátria de Amílcar Cabral, sob a máscara de afinidade política e cultural, que apenas se pode compreender num nível muito restrito entre PAIGC e o MPLA.

Este estranho brinde da presença militar angolana, é, sem dúvida, uma ocupação estrangeira. Não há argumento que subsista! O Ministro da Defesa angolano, Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem, para justificar a ocupação, dizia apenas: a Guiné-Bissau tem problemas. Pergunta-se: se Angola não tem problemas, então pode concluir-se que a questão de Cabinda não é um problema angolano? A verdade é que no imaginário dos mercenários da Missang, a Guiné-Bissau surge como uma espécie de el dourado, um offshore para a lavagem dos dinheiros dos seus dirigentes. E, já vimos esse filme algures! Em parte, trata-se de uma esperteza saloia que procura imitar actuações de algumas potências mundiais em protectorados perdidos no Médio Oriente e no Oceano Pacífico, onde conseguem operar sem se submeterem ao Estado nacional do pais em questão, nem pagarem impostos. Do ponto de vista, estritamente, militar – estou a pensar na conhecida bravura e reputação dos nossos soldados - o regime despótico de Eduardo dos Santos, já engendra missões de intervenção conjunta entre as duas forças, mas sempre sob liderança das FAA, tanto em Cabinda como em outros teatros de guerra em África ou (quem sabe?) numa eventual sublevação contra o próprio regime caduco instalado, há mais de trinta anos, no Futungo de Bela. Mas, podem esperar sentados, porque tudo isso ficará aqui, na pelélé di gato!

            Exorto, por isso, a todos os guineenses a saírem para o terreiro e rugir bem alto o poema A MARCHA, para destronar a quadrilha no poder e expulsar os tugas angolanos da pátria de Cabral:


 

A MARCHA

I

Povo, oh povo!

Ramos do mesmo tronco

Tronco do mesmo ovo

Dor, esperança te conforto,

Passam chuvas, luz vai luz vem

Pirilampos também,

Escolas de Kirintin,

Quartel Kuntangu tem,

Bolsos fartos, frotas e soutiens,

Ai não posso respirar mais,

Nem pio nem mio

Mesmas caras

Só tafal-tafal

Blá-blá-blá

Está na hora!

Vem p’ra rua e dá surra!

II

Povo, oh povo!

Ramos do mesmo tronco,

Tronco do mesmo ovo

Dor, esperança te conforto,

Hospitais chafurdas,

Alcatrão nos buracos,

Emprego keya,

Lanço pedras,

Soltam cachorros

E borrifam fogo

No voto, baralham as cartas,

Proclamam vitórias!

Ai, não posso respirar mais,

Nem pio nem mio

Mesmas caras

Só tafal-tafal

Blá-blá-blá

Está na hora!

Vem p’ra rua e dá surra!

 

Por: Balugum