PALACE HOTEL

29-12-2011 19:10

PALACE HOTEL

 

            Caminha-se, vertiginosamente, para a transformação, e ocupação, do Palace Hotel - aninho turístico - em quartel-general para cerca de mil “militares” (homens e mulheres) angolanos a expedir pelo regime monolítico do Futungo de Bela (Luanda), que mais está preocupado em exportar os seus problemas internos para o estrangeiro. Prevê-se que o grosso do dispositivo militar ficará aquartelado no QG de Santa Luzia. Qual será o objectivo da missão (ou força)? A missão será com o mandato expresso da CPLP ou das Nações Unidas? Não estará em preparação uma guarda pretoriana para o Presidente da República, para proteger o Primeiro-ministro e os interesses económicos angolanos no nosso país? Qual será a durabilidade dessa missão (ou força)? Permanecerão armados ou nem por isso? Dizem que soldado desarmado em solo alheio é um espião. Ao contingente de que falávamos, juntarão, provavelmente, os cerca de 250 “angolanos” da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), formada em Angola, desmantelada em Abril de 2008, na sequência de uma rixa que custou a vida a um elemento da Polícia Judiciária (PJ). A extinção desta corporação terá deixado um nó na garganta dos seus instrutores de Luanda. Comandará a missão das Forças Armadas Angolanas (FAA) e da polícia Nacional (PN), o tenente general Gildo de Carvalho. Escusado será perguntar se o tenente General, obedecerá as ordens do nosso CEMGFA, General António Injai. O cenário mais provável acantona de um lado, os soldados de Injai a representar a “sanzala” e do outro, os de Gildo, vigiando a “casa grande”. Sussurra-se que a vinda da missão (ou força) militar angolana será no quadro de um pretenso Projecto de Parceria e Reforma das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Sendo de enorme importância nacional, porquê que até agora não obteve a deliberação do Parlamento, mesmo que tenha sido objecto de entendimento entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro? A memória é curta! No conflito político-militar de 7 de Junho de 1998, as tropas estrangeiras pisaram o nosso chão à revelia da Assembleia Nacional Popular.

Os crimes susceptíveis a mandato internacional e que carecem de intervenção militar estrangeira são geralmente: genocídio, violação dos direitos humanos, guerra e limpeza étnica. É provável que um destes crimes esteja e ser cometido em Cabinda. No caso da Guiné-Bissau não se aplica tal imaginário! Mas mundo, neste momento, está impávido e sereno e até aplaude a iniciativa que encara como um laboratório para as futuras intervenções militares mais musculadas. A CPLP, na visão da sua liderança actual, terá encontrado uma certa acefalia política no nosso país, sobretudo a partir dos acontecimentos de 1 e 2 de Março de 2009 à esta data. A Guiné-Bissau tornou-se, para ela, como que uma casa onde apenas vivem as bruxas e os morcegos. Uma espécie de escombro que carece de uma “remodelação” inadiável. Esta imagem foi em grande medida inculcada à chamada comunidade internacional pelo governo de Carlos Gomes Júnior. No princípio do mês de Janeiro deste ano, o Ministro da Defesa Ocante da Silva - a propósito do envio de missão ou força militar estrangeira - dizia: “O processo em causa precisa de uma metamorfose urgente no seio das forças armadas, começando pela desmobilização dos “velhos”, passagem à disponibilidade e formação técnico-profissional e reinserção social dos que forem abrangidos neste processo”. E prometia ainda que tem de haver reformas profundas neste processo, porque “uma boa parte da população guineense” é militar no activo (…). Com discursos destes não precisamos de entregar de bandeja o “ouro ao bandido”. É, simplesmente, um sinal de falta de confiança em nós mesmos e nas nossas instituições, fuga em frente, à alienação da nossa soberania. E o “super-petroleiro” angolana interessado em fundar um offshore para sua elite dirigente, não desperdiçou a conjuntura. Os seus sacerdotes já desbravam o sertão; o bauxite extraído do solo guineense passou a chamar-se “Bauxite Angola”, propõem aquisição do BIG - Bancos Internacional da Guiné-Bissau, no BAO – Banco da África Ocidental, propriedades, etc. Tudo isto a troco de quê? Pagar (comprar) os antigos combatentes, no activo, generosas recompensas sob a forma de indemnizações, prémios de desmobilização, com o objectivo de “civilizar” as forças armadas e de segurança. A iniciativa também esconde uma jibóia na manga: limpeza dos “balantas” nas forças armadas. 

As razões do subdesenvolvimento da Guiné-Bissau, não podem ser analisadas de forma isolada. As nossas Forças armadas têm servido de “bode expiatório” nessa história. Mas, a questão é mais abrangente do que, a primeira vista, possa parecer. E não mora apenas nas casernas. Há trinta e sete anos atrás, as Forças Armadas nunca constituíram estorvo à classe dirigente, porque era o “braço armado” do partido dominante: o PAIGC. Tal como acontece, ainda hoje, com a bandeira, o hino nacional, e outros símbolos do povo. A incriminação de que elas “traziam o diabo no ventre”, que eram dominadas pelos balantas, e todos os epítetos atirados contra elas, vindos da “casa grande”, tiveram início na abertura ao multipartidarismo, sobretudo, quando passaram a estar ao serviço da nação e não à mercê do partido único (o PAIGC). Veremos que, nessa altura, o orçamento para o sector apanhou o declive eterno. O actual Presidente Malam Bacai Sanhá durante o escrutínio para as presidenciais de 2005, defendia a sua reestruturação por quotas étnicas. Nessa altura, parecia ter descoberto a pólvora! Imagine-se que no lugar da mãe natureza, seja agora o homem a determinar os nascituros e seleccionar os mancebos a alistar no exército em função de etnias existentes? A maior agilidade desse homem consistiria na tentativa de evitar que houvesse etnias com incumprimentos por excesso ou por defeito de mancebos, graças ao contingente estipulado.

Não basta, pois, ” a execução do programa de assistente técnica, militar e de segurança, meios de aquartelamento, armamento e técnica, infra-estruturas, saúde militar, telecomunicações e outros”, talvez fosse mesmo necessário entregar a direcção do país às autoridades angolanas e reduzir a natalidade no seio dos balantas, porque é essencialmente disso que se trata. É comum ouvir dizer que os “antigos combatentes” são analfabetos. A descolonização da mente também é necessária! Se existisse uma reforma verdadeira, ela deveria começar pelo topo da pirâmide, onde se atulham dirigentes com gritantes limitações académicas. Há tinta e sete anos que o fenómeno assola o país. Os dois altos magistrados da nação: o Presidente da República (Malam Bacai Sanhá) e o Primeiro-ministro (Carlos Gomes Júnior), são exemplos deste nosso infortúnio.

Temos capacidade e determinação para inverter o rumo dos acontecimentos. O país nos convoca mais uma vez para mais um sacrifício histórico. Os subornos não rezam história. A prioridade neste momento é rechaçar a “parceria” entre Bacai Sanhá-Cadogo Júnior e os angolanos - que dizem basear numa alegada afinidade política e cultural – com todo o engenho e energia que dispomos. O objectivo deles é eternizar o monolitismo político no nosso país, por isso seja fundamental e inadiável cortar os laços, desatar os nós, jogar fora os pedaços e transformar a quadrilha em pó. De outro modo, jamais atingiremos a idoneidade política necessária, aos olhos alheios, para tomarmos as rédeas do destino nas nossas próprias mãos.    

Por: Balugum