JOGAR À ROLETA RUSSA

29-12-2011 19:00

JOGAR À ROLETA RUSSA

 

            As declarações públicas do actual chefe da diplomacia da União Europeia, Joaquim Gonçalez Ducay, acabam de deitar por terra toda fortaleza de calúnias e intrigas políticas urdidas pelo seu antecessor, Sir. Franco Nulli. Há um ditado popular que diz: a verdade tarda, mas acaba sempre por emergir. Nulli propagou nos meios internacionais, em defesa clara e assumida de Carlos Gomes Jr., com informações perniciosas ao clima normal de relacionamento entre Estados. Foi Nulli quem espalhou a noção de que a revolta militar de 1 de Abril de 2010 foi um atentado contra o Estado de direito democrático, pelo facto de António Injai ter, publicamente, ameaçado de morte Carlos Gomes Jr.. Os seus seguidores adoram repetir este refrão, mas em nenhuma circunstância lembram informar ao mundo de que o dia 1 de Abril não foi o dia da mentira, mas, sim, o dia da libertação do Contra-Almirante, Américo Bubo Na Tchuto do cerco militar da sede das Nações Unidas em Bissau, onde se encontrava asilado, cerca de noventa dias.

 

            O Primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Jr., num encontro com a diáspora em Lisboa, em meados de Maio passado, em referência aos acontecimentos ocorridos no fatídico dia 1 de Abril, insinuou algo nestes termos: que se naquele dia acontecesse alguma coisa de mal com a sua pessoa, os passaportes da Guiné-Bissau não seriam mais reconhecidos pelo mundo. Desaforado, homem! Outra ameaça surge agora encomendada directamente do Palácio das Necessidades em Lisboa. Quer dizer que o socratismo ainda subsiste. Lançou súplicas em socorro da sua marioneta de Bissau, dizendo: se alguém quiser jogar à roleta russa em Bissau, terá de o fazer por sua conta e risco, porque o Governo português não teria condições, e muito possivelmente, não teria também vontade de voltar de defender a Guiné-Bissau nas instituições internacionais. A tentação é desmedida e a aflição também! Mas, duvido que o actual Governo Português esteja interessado em embarcar em expedições neocolonialistas.

 

 

 

A indignação popular, interpretada pelo Colectivo da Oposição Democrática (COD), não se acanhará com falsas profecias. Não é sábia e muito menos institucional a posição de que o Governo Português não teria condições nem vontade de defender a Guiné-Bissau nas instâncias internacionais. É evidente que o povo português amaldiçoa semelhantes desacertos. No que concerne a Guiné-Bissau, escusado seria referir-se que somos um Estado soberano e jamais encomendaria sua própria defesa a um outro Estado soberano, nas instâncias internacionais. Na verdade, o aviso lançado pelos padrinhos de Carlos Gomes Jr., visa dois objectivos: em primeiro lugar, desmotivar os manifestantes e, depois, dizer-lhes que, a partir de agora, o Governos português, passará a jogar à roleta russa com a Guiné-Bissau em todas as instituições internacionais, caso a sua marioneta fosse exonerada do cargo de Primeiro-ministro.     

 

            O COD, liderado pelo PRS, optou, sim, legal e democraticamente, por transferir a luta política do parlamento para as ruas, junto do seu povo. Pergunto: de que forma poderiam os partidos políticos, sem assento parlamentar, fazer-se ouvir os seus protestos? A União Europeia já enalteceu essa via de luta política, através do seu representante, Sir. Joaquim Gonçalez Ducay. O rio é caudaloso e as ondas são gigantes, e não há messias que possa travar o seu ímpeto. É histórica a decisão do Ministério Público que mandou arquivar uma suposta tentativa de golpe de Estado, por falta de prova. O povo esgravata: será que o Governo assassinou os dois deputados, Helder Proença e Baciro Dabó? Recorda-se, no entanto, que o Governo -  na pessoa do então Ministro dos Recursos Naturais e Ambiente, Óscar Barbosa (Cancam), acompanhado pelo Ministro do Comércio, Botché Candé, na presença de jornalistas, sem direito a perguntas -  exibiu, como se fossem troféus, as gravações áudio e um vídeo que teria sido gravado com uma caneta com câmara, como alegadas provas da tentativa de golpe de Estado que iria ter lugar no dia 5 de Julho de 2010, tendo como cabecilha os dois malogrados deputados.

 

Apregoam democracia pelos quatro cantos, mas quando o povo sai ordeiramente para as ruas, reclamando justiça é porque alguém quer jogar à roleta russa. Preferem o caos, a impunidade, o jogo sem regra e sem árbitro. Eles sabem que o seu projecto regresso à antiga colónia da Guiné está comprometido. Porque o COD está de olhos aberto e uivará pela justiça no país até que Carlos Gomes Jr., parta e responda à Justiça. E, depois de tudo, se o Governo português - que parece patentear-se nas palavras do Director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança - estiver interessado no embuste, dispensá-lo-emos para integrar a equipa de Cristiano Ronaldo!

 

            Por Balugum