Lubu di kassaka

19-06-2012 11:24

Lubu di kassaka

 

            Faz parte da letra de uma canção de Super Mama Djombo, recordando-nos a mensagem sobre o perigo da “alienação da nossa soberania”, deixada por Amilcar Cabral, no Congresso de Cassacá. Hoje, ninguém a escuta! Bem sabemos que, em geral, os ouvidos atuais, não são apropriados para compreender o engenho e a arte dessas composições musicais. A culpa será da geração anterior? É um campo a investigar! Para muitos, esse passado já não conta. O que importa, para muitos, é o aspeto material. O ser humano soube criar progresso tecnológico, mas continua a ser um animal que nunca deixou de ser egoísta e impiedoso. Incapaz de evoluir racionalmente, pois continua a matar os seus semelhantes por intolerância de ideias, à escuridão da ignorância, da fome, etc. 

            Chegamos ao século XXI, pergunto: o mundo mudou? Sim, ele está a mudar, mas as mentalidades continuam presas ao conservadorismo do passado. Defendem o modernismo para agradar o público. Em privado, advogam o regresso ao pensamento discriminatório do Estado Novo: “indígenas versus civilizados”. Ainda estão enfeudados a missão civilizadora, de proliferação da cultura entre os nativos africanos e nunca o contrário. Abstração cultural africana atinge um nível tão alto que até parecem extraterrestres! Acredito que se, Barack Obama, não assumisse a sua condição de negro americano, viveria contrariado pelo resto da sua vida. Esta forma dissensão e de êxtase social não deixa de constituir, só por si, uma pedra na engrenagem no desenvolvimento do país que nos pertence a todos. Esta visão parcial da realidade social africana busca a perpetuação. No consulado de Carlos Gomes Júnior, é mais que evidente o foço social, entre os da cidade e os do interior. Raramente viajou e pernoitou nas terras do interior profundo da Guiné. Padecia do “impostor syndrome” e desdenhava uma etnia: balantas. Por pouco não se reeditou o extermínio étnico cometido no caso 17 de Outubro de 1986. Fez campanha negra em Angola, Portugal e no mundo inteiro contra os militares oriundos da etnia balanta com que proveito?

 

            E sobre a retirada da Missang, apraz perguntar: se para Angola formar o exército do nível que hoje se arroga ter, foi preciso o uso da “chibata”? Para quem não sabe, a nossa relação com o povo angolano é cordial e de sangue. Ao pisarem o solo angolano, de regresso à casa, José Eduardo dos Santos endereçou uma mensagem de felicitação aos efetivos militares e da polícia, dizendo: “As FAA e a Polícia Nacional acabaram de cumprir mais uma honrosa missão que se inscreve nos anais da gloriosa História dos combatentes que lutaram pela libertação nacional (Angola), defesa da Pátria e integridade territorial”. A interpretação desta frase daria um livro. No nosso ponto de vista, a missão carecia de uma edificação clara e transparente. Passados doze meses os objetivos preconizados não foram atingidos. Angola mandou interromper, unilateralmente, a missão. Foram contabilizados cerca de 249 efetivos. Quase o número de guerrilheiros (cerca de 300) sob o comando de Manuel Na Ndigna combatera os mercenários da Africa do Sul, “Búfalo”, às portas de Luanda. Quem não se recorda do temível combatente de dois metros de altura, Pash Kuul, que não se agachava no campo de batalha e que depois foi morto no caso 17 de Outubro? Sangue dos combatentes guineenses derramou nas terras angolanas. A Guiné-Bissau perdeu cerca de cinco combatentes nessa epopeia militar. Abstenho-me de apresentar mais detalhes sobre este assunto. Gostaria de referir apenas que os nossos povos da Guiné-Bissau e de Angola são dignos do respeito e reconhecimento dos seus dirigentes. O dinheiro não restitui a vida das pessoas! A queda do “Muro de Berlim” foi em 1989. É certo que hoje, os campos ideológicos tornaram-se difusos. Os combates pelo reconhecimento político internacional, por exemplo, as legitimidades dos chefes, passam, tendem a passar hoje em dia, pelo que disse Paulo Portas sobre o mercado angolano: «O mercado angolano é o primeiro fora da Europa para as nossas empresas, que fazem aqui uma aposta muito importante, que fazem aqui investimentos significativos e que ao ter uma posição importante em Angola estão a proteger postos de trabalho na retaguarda, em Portugal». O silêncio político torna-se mais embaraçoso quando a investidora angolana, Isabel dos Santos, toma o controlo da Zon em 28,8%, compra a Telefónica e a Cinveste, que terá rendido cerca de 85 milhões de euros ao Estado.

As soberanias dos povos, o respeito recíproco entre Estados e a democracia, permanecem firmes e inabaláveis.

            No ka na npinha no terra!

 

            Por Balugum